CONVITE

Convite

Venha, adentre a palavra, abra seu templo, sinta seu perfume, deguste esse sabor de aventura, novidade com cheiro de passado passado, longínquo.

Venha! Aqui você vai encontrar uma menina de nariz arrebitado que salta e vibra na fuga de páginas amareladas e nunca deixa de ser a criança que passeia entre as bananeiras do Sítio e as ruas sinuosas do emaranhado de redes futurísticas.

Venha, encontre seu Mosqueteiro que, em busca da verdade transversa no Olho Torto de Alexandre, põe Ulisses em movimento, em seu cavalo de troia, para vencer a guerra da ignorância e desumanização de Vidas Secas miseráveis, tão humanizadas pela existência de Baleia e reflexões “você é um bicho, Fabiano”.

Venha! No meio do asfalto nasceu uma flor, que já foi bomba e foi pedra no meio do caminho, foi navio, foi nave e agora é rede.

Venha deixe as camurrices Machadianas, saia da Ilha Desconhecida, para navegar em Mares Nunca Dantes Navegados e, a cada embarque, uma nova viagem.

Venha sentir a vibração de nossa Língua na língua de Pessoa, Caetaneando na concretude de Gil, na sinuosidade dos grafites, poetizando essa vida brasileira em prosas e versos que se soltam das prateleiras bibliotecatizadas de cupins, traças, trecos e troços, extrapolam e viram passarinho na cabeça de um criativo que sangra em verso e prosa e recebe em si a liberdade de azuis.

Este é o seu lugar, secularmente seu, na essência e superfície. Tome seu assento que o voo vai começar. E você é o meu convidado para essa nossa pulsante aventura; ler: céu, mar, ar, pétala, lua, garça, pedra, história, gente. Ontem, hoje amanhã. Ler, papel, som, imagem. Ler ser.

Professora Matilde

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Qualidades do Professor

Qualidades do Professor

Se há uma criatura que tenha necessidade de formar e manter constantemente firme uma personalidade segura e complexa, essa é o professor.

Destinado a pôr-se em contato com a infância e a adolescência, nas suas mais várias e incoerentes modalidades, tendo de compreender as inquietações da criança e do jovem, para bem os orientar e satisfazer sua vida, deve ser também um contínuo aperfeiçoamento, uma concentração permanente de energias que sirvam de base e assegurem a sua possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a apreender cada fenômeno circunstante, conciliando todos os desacordos aparentes, todas as variações humanas nessa visão total indispensável aos educadores.

É, certamente, uma grande obra chegar a consolidar-se numa personalidade assim. Ser ao mesmo tempo um resultado — como todos somos — da época, do meio, da família, com características próprias, enérgicas, pessoais, e poder ser o que é cada aluno, descer à sua alma, feita de mil complexidades, também, para se poder pôr em contato com ela, e estimular-lhe o poder vital e a capacidade de evolução.

E ter o coração para se emocionar diante de cada temperamento.

E ter imaginação para sugerir.

E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados.

E saber ir e vir em redor desse mistério que existe em cada criatura, fornecendo-lhe cores luminosas para se definir, vibratilidades ardentes para se manifestar, força profunda para se erguer até o máximo, sem vacilações nem perigos. Saber ser poeta para inspirar. Quando a mocidade procura um rumo para a sua vida, leva consigo, no mais íntimo do peito, um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.

Quantas vezes, entre esse ideal e o professor, se abrem enormes precipícios, de onde se originam os mais tristes desenganos e as dúvidas mais dolorosas!

Como seria admirável se o professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo, o exemplo amado de seus alunos!

E, depois de ter vivido diante dos seus olhos, dirigindo uma classe, pudesse morar para sempre na sua vida, orientando-a e fortalecendo-a com a inesgotável fecundidade da sua recordação.

Texto de Cecília Meireles, extraído do livro Crônicas de Educação 3
Ilustrado por Laurabeatriz

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Minhas memórias de Lobato.

PARECER 1

Conhecer algumas curiosidades, segredos e histórias preciosas de Lobato é tomar contato com as suas memórias, aqui reveladas por Emília e pelo Visconde, com a pena mágica de Luciana Sandroni. Com um texto rico em informações, muitas delas ainda desconhecidas do público infantil, Luciana cria um diálogo vivo entre Emília e Visconde, com uma linguagem que é muito peculiar de seus textos: coloquial, contestadora e rica em fantasias.

A aventura em que Emília se mete nestas memórias é o resultado de um trabalho de pesquisa transformado em ficção. A autora, hábil em criar personagens irreverentes, como a Ludi de seus livros anteriores, segue a trilha deixada por Lobato, criando um texto onde a boneca curiosa e falante esmiúça a vida do grande autor, interfere nas falas do sabugo e expressa suas idéias autênticas. A ludicidade e o ponto de vista utilizados pela autora abrem a possibilidade de identificação da criança.

Há muitos diálogos, bem construídos, que prendem o leitor, atento a descobrir mais histórias lobatianas. Referências de autores, celebridades, história do Brasil estão presentes no texto, sem tornar a leitura árida para a criança. Podemos assegurar que o livro é uma biografia inédita, destinada às crianças, daquele que é considerado o Pai da literatura infantil brasileira. Como carecemos de biografias destinadas ao público infantil, acreditamos que esta seja uma publicação importante para as escolas, principalmente por se tratar de Monteiro Lobato - grande criador e educador brasileiro.

Certamente, é um convite aos já leitores de Lobato para conhecerem uma história gostosa de ser lida. Para as crianças que ainda não o conhecem, ou só conhecem o seriado da televisão, este é um livro obrigatório, de entrada no universo imaginário, povoado de criações e recriações que nos deixou Lobato.

As ilustrações fazem uma releitura das características da Emília, do Visconde, da Dona Benta... São caricaturais e cômicas, trazendo recortes de situações do texto. Nota-se a exploração de cores vibrantes que brotam do branco do papel, como se as imagens renascessem das "memórias".

Ao final, há um "Álbum de recordações", com fotos, referências e datas de Lobato - menino, jovem e adulto. Há também algumas pinturas do próprio Lobato, bem como uma cronologia de sua vida, o que torna o livro uma fonte de pesquisa inesgotável para as crianças. Homenagem e reconhecimento ao grande valor de Monteiro Lobato, este é um livro que vale a pena ser lido pelas crianças das novas gerações e também pelos professores para que a obra deste célebre escritor continue viva na memória nacional. Acabando de completar 50 anos da morte de Lobato, essa é uma oportunidade de valorizar um dos escritores mais importantes no cenário da literatura brasileira.

(Ninfa Parreiras)

PARECER 2

O livro de Luciana Sandroni conta a vida de Monteiro Lobato, o criador das deliciosas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Entretanto o charme do livro se encontra na maneira espirituosa com que a autora constrói essa biografia: é a personagem de Lobato, a travessa Emília, secretariada, ainda uma vez, pelo paciente Visconde de Sabugosa quem "de fato" contam a história.

A verossimilhança do texto não está apenas na cuidadosa pesquisa que ancorou o projeto, mas no talento com que Luciana "incorpora" o jeito de escrever do autor, permitindo que o leitor de Lobato mate as saudades de seu modo irreverente de conduzir a linguagem. É um presente dos céus e das mãos talentosas de Luciana.

A ilustração de Laerte dispensa comentários. O humor do cartunista articula-se com a irreverência de Lobato e com o espirituoso texto de Luciana.

O projeto gráfico é primoroso nos detalhes: a inclusão de fotos do "album de recordações", de alguns dos trabalhos plásticos de Lobato, da cronologia e até da escolha de inserir o número das páginas no centro da margem direita sombreado do amarelo, o mesmo amarelo do sítio.

Luciana é uma talentosa e premiada escritora. Neste livro une o seu talento criador à pesquisa e cria uma biografia saborosíssima, ao estabelecer uma rica relação intertextual com a produção cultural de Lobato.

Conhecer a vida de nossos artistas ou a vida dos grandes nomes de nossa história sempre estive associado a gosto de ranço e cheiro de naftalina.

Nos últimos tempos, temos sido contemplados por uma série de iniciativas que permitem que as crianças possam conhecer estas biografias de um modo espirituoso e leve que desperta o desejo de se aproximar da obra do biografado. É no melhor dessa corrente que se inscreve o livro Minhas Memórias de Lobato.

Conhecer Lobato e sua contribuição para a cultura de nosso país é indispensável. Agora ser apresentada a ele pela irreverente Emília-Luciana é uma daquelas delícias impagáveis.

Minhas memórias de Lobato. Luciana Sandroni. Il. Laerte. São Paulo:Cia. das Letrinhas,1997. 96p.
(16,2 x 23 x 0,6cm - 235gr.)

Láurea "Altamente Recomendável para a Criança"- FNLIJ -1997
Prêmio Ofélia Fontes - "O melhor para a Criança" - FNLIJ -1997
Prêmio Jabuti - Categoria Infantil - 1997
(Maria José Nóbrega)
http://biblioteca.fnlij.org.br:81/pergamum/biblioteca/index.php?resolution2=1024_1

segunda-feira, 18 de julho de 2011


Suspense, ação e romance são os ingredientes de Sangue de Lobo de Rosana Rios e Helena Gomes (Farol, 520 páginas).
Em um mundo fantástico de lobos, homens e criaturas assustadoras, as escritoras criaram uma história que promete prender a atenção do leitor até a última linha. O livro mostra uma série de assassinatos que aconteceram no século XX e voltam a acontecer no século XXI. A história, recheada de suspense, romance, ação e mistérios, revela porque as autoras são reconhecidas por criar mundos fantásticos que fascinam pessoas de todas as idades.
Nesta história, um antigo original de um livro, contando uma história de mistério e morte que acontece no século XX, jaz esquecido num pequeno museu em um restaurante no interior de Minas Gerais. Duas jovens, Ana Cristina e Cristiana, em viagem com a família de Ana, encontram-no e leem a história. Elas ficam assustadas, pois o enredo do livro retrata exatamente o jogo de RPG que elas criaram com amigos em São Paulo. E o mais curioso: a história se passa na cidade onde vão passar as férias. Foi lá que ocorreram crimes em série no início do século XX. E, no mesmo local, 100 anos depois, volta a acontecer uma sequência sinistra de mortes – oito macabras bonecas de porcelana parecem corresponder às vítimas de um insano assassino serial.
As histórias do presente e do passado se misturam, a partir do personagem Daniel que, na verdade, é o lobisomem, o Hector um rapaz inglês do passado que lutava contra a maldição. O livro trata ainda da relação de amor entre uma garota e um lobisomem. A origem do nome, Sangue de Lobo, está na explicação do que acontece com o sangue para que o personagem se transforme em lobo. As autoras foram buscar explicações científicas para justificar a transfiguração. Por isso, a obra está sendo chamada de “o livro definitivo sobre lobisomens”. Como contos da mitologia e do folclore, em que seres humanos se transformam em animais, e devem passar por duras provas para reencontrar sua parcela de humanidade, nesta história a busca interior de cada personagem os levará a enfrentar a maldade e a loucura em busca de respostas – se não sobre os crimes, quem sabe sobre si mesmos.
Esse é o primeiro encontro literário das duas autoras que são apaixonadas pelo mundo fantástico.
Fantasia, aventura e seres fantásticos estão entre os elementos que gosto muito de colocar nas minhas histórias. Acho que escrevo sobre eles porque também me fascinam. E nada como um bom fascínio para dar ideias a um escritor, justifica a autora Helena Gomes.
Acho que o Fantástico – a Ficção Científica, o Terror, a Fantasia – são gêneros que dão mais liberdade ao escritor para falar de assuntos importantes, sem ser chato, diz Rosana Rios.

Elas já se conheciam do meio literário. Helena já havia lido alguns livros de Rosana desde o final da década de 1990. Elas se encontraram várias vezes em lançamentos, feiras e encontros, até que, num desses eventos, almoçaram juntas e Rosana fez um convite para que escrevessem um livro juntas. “Achei que ela ficou meio tímida, mas dias depois me mandou o início de uma história com o personagem Hector: um rapaz inglês que, nos primeiros anos do século XX, está condenado a se transformar em lobisomem nas noites de Lua Cheia. Adorei a concepção do personagem, que lutava contra aquela maldição, e propus um outro personagem importante, o Daniel, que viveria no século XXI. Então começamos a escrever. A história tomou vida nas nossas cabeças e acabou virando um livro policial muito emocionante”, recorda Rosana Rios.

Ao ler Sangue de Lobo, o leitor percebe a boa sintonia que houve entre as autoras. Na Parte 1 da obra, Helena Gomes ficou com a parte do passado (século XX), enquanto Rosana Rios com o presente (século XXI). Já na Parte 2, os capítulos foram divididos e cada uma ficou responsável por alguns deles.
Mas sempre demos palpite nos capítulos uma da outra, intercalamos cenas, mudamos acontecimentos até ficarmos satisfeitas com o resultado final, comenta Rosana Rios.
Para criar a obra, as duas fizeram ainda várias pesquisas, como explicar cientificamente a transformação de um ser humano em lobo. “Qual é o agente que desencadeia a mutação em lobo? Fomos pesquisar em vários mitos sobre transformação e nas histórias do folclore mundial sobre lobisomens, e também fomos estudar a composição do sangue humano. Descobrimos coisas incríveis, que explicam perfeitamente a contaminação que resulta na Licantropia. E, já que está tudo no sangue, daí tiramos o nome do livro – Sangue de Lobo. Basta dizer que o leitor vai finalmente entender o que faz uma pessoa virar lobo e como reverter a maldição”, revela Rosana Rios.
Um dos pontos altos de Sangue de Lobo é que a história fantástica se passa no Brasil.
Há cenários incríveis aqui, só esperando uma chance de serem descobertos. A cidadezinha de Passa Quatro, em Minas, onde se passa a trama, é uma delícia, cercada por montanhas numa paisagem de tirar o fôlego, conta Helena Gomes. Isso sem falar das oito macabras bonecas de porcelana que ficarão marcadas na memória do leitor. Aquelas bonecas de porcelana me dão calafrios. Elas, com certeza, chamam a atenção (rsrs), brinca Helena.
Para elas, as histórias fantásticas são muito importantes para a formação do jovem, público-alvo do livro.
Além de ser muito atraente para o leitor jovem, o Fantástico apresenta possibilidades sem fim de reflexão sobre a realidade. Às vezes é importante nos afastarmos do mundo real para compreender melhor como ele funciona. E, como nas histórias de fantasia usamos muitos elementos dos mitos e do folclore (como a figura do lobisomem), trabalhamos com arquétipos, motivos antigos que fazem parte da literatura desde sempre. Tudo isso enriquece o leitor, opina Rosana Rios.